"A Tensegridade, ou a desumanização do conhecimento"
Guillermo Marin - 11/01/2006
.
Há corrido muitos rios de tinta nesses 33 anos, desde que apareceu o primeiro livro do antropólogo Carlos Castaneda e a obra se mantém como um clássico, devido ao próprio autor, à Verde Claro e aos fanáticos da tensegridade.O que se sucedeu com o fenômeno Castaneda e o que tem ocorrido com a Toltequidade?
.
Castaneda foi tocado pelo Poder, para que difundisse massivamente os ancestrais conhecimentos dos Toltecas do México Antigo. Se diz que Castaneda morreu e a "empresa" Verde Claro*, que "comercializa" os ensinamentos de "Don Carlos", não tem conseguido difundir massivamente a tensegridade, que agora tem adeptos em vários países, mas que segue estando em pequenos grupos de praticantes obsecados.
.
É curioso que um legado de conhecimento tão importante, e que esteve durante séculos de maneira secreta entre os indígenas, agora pertença a uma "empresa" com "direitos reservados" e que os usufruidores sejam pessoas não indígenas, que desvalorizam toda a experiência cultural que dá origem ao "seu conhecimento", e que só lhes importa obsessivamente a tensegridade.É um erro tratar de "usar" a toltequidade, rechaçando a base cultural que a sustenta. A tensegridade nem é a essência da toltequidade, como chamava don Juan Matus, ou Toltecayótl, como a conhecem os historiadores. A Toltecáyotl é fruto florescido do pensamento Mesoamericano que permitiu não somente o esplendor do México Antigo, mas também que nós, mexicanos, possamos ter sobrevivido a cinco séculos de feroz colonização e negação.
.
Com efeito, a Toltequidade é uma forma complexa de entender a vida e o mundo, que não tem a ver somente com a "tensegridade". Desgraçadamente, o colonialismo fez com que os mexicanos depressiassem o que é seu, exaltando o alheio. Uma vez me comentou José Agustín que em 1968 levou o primeiro livro de Castaneda ao Fondo de Cultura Económica e nem lhe fizeram caso para a sua publicação. Tiveram que passar muitos anos para que a obra fosse conhecida em todo o mundo, para que com um prólogo de Octávio Paz, o Fondo decidisse publicá-la. Em um país colonizado, como é possível que um índio possa ter algum conhecimento?! E pouco têm mudado os que dirigem o México, porque recentemente os senadores e deputados negaram às comunidades indígenas a aprovação de uma lei que reconheceria seus direitos.
.
Os únicos "guerreiros" que eu conheço, "os de verdade", são os povos índios. Se não fossem praticantes culturais da Toltequidade (não racionais), não haveriam podido sobreviver à sua morte histórica. Um indígena tem que seguir as técnicas que Don Juan, recomenda a Castaneda, não para ser "muuderrno" ou estar "in", ou ser da "nova era", mas para simples e sensivelmente sobreviver em um mundo onde a injustiça, a exploração e o genocídio é o pão nosso de cada dia. O ser inacessível, o ser responsável, o parar o diálogo interno, o fazer-se responsável, o levar a morte como companheira, a marcha de poder, o ser frugal, etc, nos descreve um indígena comum.Assim, que é curioso ver como um punhado de "iluminados" têm tomado a Toltequidade, patenteando-a e vendendo-a por todo o mundo. Não somente negam o valor cultural de seu conhecimento, como também negam a maravilhosa experiência que viveu no México seu "guru", na busca desse conhecimento.
.
De fato, muita gente que pratica a tensegridade desvaloriza a interessante e valiosa obra de Castaneda. Para eles, a única coisa importante é a tensegridade. Isto é um grande erro, pois ao descontextualizar a tensegridade da Toltequidade, a tensegridade se converte em um instrumento perigoso. É como falar de um afiado atame sem cabo, o simples fato de pegá-lo pode nos ferir. O mesmo também se passa com as artes marciais do Oriente. No Ocidente são comercializadas e têm perdido seu contexto cultural-filosófico, e se converteram em mais outra "empresa" dentro do "mundo livre". Quantos loucos acreditam ser "guerreiros ninjas" nas ruas das grandes cidades. Quantas vezes você pode ter passado por um local e os escutado ferozmente gritar e exibir suas rotinas guerreiras.
.
O assunto chave está em poder avaliar se o que está ocorrendo com a tensegridade é o que o Poder encomendou a Castaneda. Devemos recordar que don Juan ensina a Castaneda que um homem de conhecimento recebe uma tarefa antes de "ir-se", e Castaneda assume que a difusão do conhecimento foi "sua tarefa", mas, hoje, mais do que nunca, diante da "morte" de Castaneda e as manipulações que tem feito a Verde Claro, vemos que a prática deste conhecimento se reduz a círculos cada vez mais reduzidos e vemos indivíduos, cada vez mais fanatizados e dogmatizados, alijados totalmente do sustento cultural que lhe viu nascer. Descontextualizar a tensegridade é desumanizar o conhecimento. Isso é o que, desgraçadamente, vemos que está acontecendo com os "aiatolás" da tensegridade. Parece até que o fundamentalismo tem tocado as portas entre os fanáticos praticantes.
.
Nada se perdeu, porque aí segue a obra para quem tem poder pessoal suficiente para vencer a obsessão e o obscurantismo individualista. Nada se perdeu, porque don Juan Matus é somente uma das muitas linhagens que existe na Toltecayótl. O conhecimento dos toltecas segue vivo, vibrante e vigente. Espreitando o momento oportuno de sua revelação exaltante.
.
.
Nota: (Tradução: Tatiana Meurer (Menkaiká) *Cleargreen(EUA), Verde Claro(México)).
Fonte:

3 comentários:

Socram disse...

Cara, ótimo ter conhecido seu site! Parabéns por tudo. Mantenha firme e forte... abraço.

Thiago disse...

Muito obrigado por dividirem todas essas informações meus irmãos! ESSE BLOG DEVIA VOLTAR.

Anônimo disse...

não existe coisa de xamã,índio ,e sim de guerreiro

Praticas Toltecas Essenciais